Ana Cristina Cesar. Tres poemas

Javier Izquierdo Reyes

Noite de Natal.

Estou bonita que é um desperdício.

Não sinto nada

Não sinto nada, mamãe

Esqueci

Menti de dia

Antigamente eu sabia escrever

Hoje beijo os pacientes na entrada e na saída

com desvelo técnico.

Freud e eu brigamos muito.

Irene no céu desmente: deixou de

trepar aos 45 anos

Entretanto sou moça

estreando um bico fino que anda feio,

pisa mais que deve,

me leva indesejável pra perto das

botas pretas

pudera

Nochebuena.

Estoy bonita que es un desperdicio.

No siento nada

No siento nada, mamá

Olvidé

Mentí de día

Antes sabía escribir

Hoy beso a los pacientes en la entrada y en la salida

con desvelo técnico.

Freud y yo peleamos mucho.

Irene en el cielo desmiente: dejó de

trepar a los 45 años

Entretanto soy joven

estrenando un tacón de aguja que anda mal,

pisa más de lo que debe,

me lleva indeseable cerca de las

botas negras

claro


Sábado de aleluia


Escuta, Judas.

Antes que você parta pro teu baile.

A morte nos absorve inteiramente.

Tudo é aconchego árido.

Cheiro etemo de Proderm.

Mesa posta, e as garras da vontade.

A gana de procurar um por um

e pronunciar o escândalo.

Falar sem ser ouvida.

Desfraldar pendengas: te desejo.

Indiferença fanática ao ainda nao.

 

Sábado de aleluya

 

Escucha, Judas.

Antes de que partas para tu baile.

La muerte nos absorbe enteramente.

Todo es amparo árido.

Olor eterno de Proderm.

Mesa puesta, y las garras de la voluntad.

Las ganas de buscar uno por uno

y pronunciar el escándalo.

Hablar sin ser oída.

Ventilar peleas: te deseo.

Indiferencia fanática al aún no.


poema óbvio

 

Não sou idêntica a mim mesmo

sou e não sou ao mesmo tempo, no mesmo lugar e sob o mesmo ponto de vista

 

Não sou divina, não tenho causa

Não tenho razão de ser nem finalidade própria:

Sou a própria lógica circundante

 

poema obvio

 

No soy idéntica a mí mismo

soy y no soy al mismo tiempo, en el mismo lugar y bajo el mismo punto de vista

 

No soy divina, no tengo causa

No tengo razón de ser ni finalidad propia:

Soy la propia lógica circundante 

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